Salvação do coronavírus pela emissão de moeda. Quem diria…

Boletim nº 13 – 26 de março de 2020

 

Por Rodrigo Portugal

 

A pandemia que se alastrou pelo mundo trouxe efeitos tanto sanitários quanto econômicos. O principal deles foi o derretimento das bolsas ao redor do mundo e a escalada do preço do dólar nas economias mundiais.

Entretanto, o efeito mais perverso atinge o emprego e a renda, despertando o mundo para a economia real, cada vez mais eclipsada pela financeira. O governo americano anunciou em meados de março um pacote de U$ 700 bilhões para reativar a economia, uma forma de abastecer os países de dólares.

E de onde vem esse dinheiro? Do ajuste fiscal, dos superávits? Não, ele vêm da emissão de moeda. A Casa Branca ordenou a emissão de moeda, jogando abaixo os preceitos neo-keynesianos de que a credibilidade, a política monetária e o ajuste fiscal podem restabelecer a economia. O Estado precisa gastar, injetar dinheiro na economia e não transformar moinhos de vento em dragões.

Essa é uma discussão antiga que parecia esquecida nos livros  de economia, até a deputada americana Alexandra Ocasio-Cortez Cosio, o democrata Bernie Sanders, o economista Wrandall Wray – que veio ao Brasil recentemente – e até o pai do plano real, André Lara Resende, começarem a comentar sobre a moderna teoria da moeda, na qual um país que emite sua própria moeda não pode quebrar. A emissão de moeda deve ser gasta em setores estratégicos e anti-inflacionários, como de infraestrutura, e o fim último da política econômica, a geração de emprego.

Não são gastos aleatórios que geram inflação, como colocam os seguidores de Friedman, é apenas a retirada da pecha satânica da política fiscal de forma pragmática, ajudando a cortar as amarras de uma política econômica austera e aparentemente eterna. Cortar virou sinônimo de coisa boa e não existe limite para isso. Conforto virou sinônimo de sultanato.

Não adianta pensar que no nosso país vamos resolver esse problema com a arrecadação e com mais cortes, esperando a fada da confiança chegar e trazer boas novas. Ele precisa criar empregos e para isso é necessário gerir a emissão de moeda. A incoerência do pacote anunciado pela equipe econômica para combater os efeitos do vírus é tamanha, que a solução para segurar a renda é o corte de salários e a redução dos custos da mão de obra! Para segurar a renda é preciso reduzir salários!! E como fica o consumo e a vida no curto prazo? Ó, salvadores R$ 200 para os informais…

A redução dos custos da mão de obra a qualquer preço segue perfeitamente a cartilha tradicional de socorrer o empresariado e o setor financeiro. Eles não gerarão empregos no curto prazo, pois suas expectativas quanto ao futuro são extremamente negativas. Criar demanda efetiva com investimentos públicos nem passa pela cabeça dos que guiam o Estado. Temos que voltar a ter o controle sobre a nossa moeda!

Os gastos produtivos em momento de crise é uma ideia velha que produz seus efeitos e já tem inúmeras amarras para que não descambe na velha corrupção.

Porém, para a plêiade, o que importa mesmo é cortar, mesmo que isso custe milhares de vidas, um preço alto que pode ser cobrado daqui a dois anos.

Eficiência do gasto não é tudo, é preciso que saúde e emprego entrem nessa equação! Vida não é sinônimo de preguiça!

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