Descomplicando o ensino sobre macroeconomia e finanças públicas: relato de uma metodologia empregada no curso de Gestão Pública (GPDES)

Boletim nº 69, 27 de abril de 2023

O professor do IPPUR, Daniel Negreiros, tem adotado uma metodologia diferente em sala de aula para que os/as  estudantes consigam entender melhor o funcionamento das políticas econômicas, a partir de uma visão mais prática. A estratégia se baseia em um exercício, inspirado por uma versão mais simples da proposta desenvolvida pelo economista Warren Mosler, que trazia o questionamento: Se a moeda que usamos é uma dívida estatal, como podemos imaginar que impostos são possíveis, sem que antes uma moeda tenha sido criada e entregue à população de alguma maneira? Como podemos afirmar que impostos e empréstimos junto ao setor privado financiam o Estado, se ele é o único criador da moeda? 

Em conversa com a equipe da Agência IPPUR, o professor comentou: “Talvez o grande problema para entender esse erro analítico das pessoas sobre as finanças públicas esteja no fato de que elas ‘pegam o bonde andando’ do que está acontecendo na economia. Elas partem do momento em que impostos estão sendo pagos, e os gastos são realizados subsequentemente. Pode ficar parecendo, para quem pegou o bonde andando, que o governo está se financiando por meio da cobrança de impostos, e essa é uma leitura muito fácil de ser assimilada pelas pessoas, porque é assim que nós vivenciamos a prática da arrecadação e do gasto público”.

Para rever esse senso comum, é preciso desenvolver um raciocínio em torno das finanças públicas que compreenda que os pagamentos feitos pelo Estado colocam o dinheiro na economia, dinheiro que mais tarde será utilizado para pagar impostos, para comprar dívidas públicas, etc. Por essa razão torna-se necessário explicar para os/as alunos/as como a economia começa a funcionar no seu início, de uma forma mais simplificada, e pouco a pouco vai se tornando mais complexa.

Nesse sentido, o método se organiza a partir da criação de um país imaginário, com uma estrutura de governo simples, em que só há um imperador, no caso representado pelo professor Daniel, que declara as regras, assim como as políticas econômicas que serão aplicadas. Os/as estudantes são cidadãos/ãs deste país e devem seguir as medidas estabelecidas pelo governante. Dessa forma, o professor consegue demonstrar que é o Estado que primeiro distribui dinheiro e, pouco a pouco, com a explicação da matéria, mais políticas são aplicadas, e os/as estudantes conseguem ver na prática como funcionaria a economia de um país. 

O exercício é aplicado em duas disciplinas do curso de gestão pública: Macroeconomia e Gestão Macroeconômica e Finanças Públicas. Ao colocar os/as discentes em contato direto com os eventos macroeconômicos, mesmo que de maneira simplificada, o exercício auxilia na construção de uma visão crítica sobre as dinâmicas econômicas. 

O relato de Lucas Ferreira, aluno da disciplina, mostra a relevância da metodologia: “O uso do Knnap, que é a moeda criada na disciplina, serviu para entendermos os motivos que levaram à necessidade do surgimento das moedas. Ao final do período será cobrado um imposto por parte do professor, que faz o papel do Estado, e os alunos terão que pagar uma quantidade mínima para que possamos ser aprovados. Essa dinâmica me ajuda na demonstração de como a moeda serve como um documento que é fornecido pelo Estado e que se torna uma necessidade de seus cidadãos.

De forma lúdica e interativa, o método descomplica o ensino sobre macroeconomia e finanças públicas e contribui para qualificar o debate – essencial à formação dos/as futuros/as gestores/as – sobre disponibilidade orçamentária e gasto público.